Por Ricardo Araújo Pereira in (Abola, 27-02-2010)
INDIGNADO com certas falcatruas, Rui Moreira deu o braço a Fernando Madureira, dos Super-Dragões, e foi manifestar-se para a sede da Liga de Clubes com o intuito de moralizar o futebol português. Os dois adeptos do clube cujo presidente cumpre neste momento uma pena de suspensão de dois anos por tentativa de corrupção estão compreensivelmente preocupados com determinadas injustiças. Sabemos todos que os sócios do clube que pagou uma viagem ao Brasil a Carlos José Amorim Calheiros são particularmente sensíveis aos atentados à verdade desportiva. Não admira: os adeptos do clube cujos dirigentes foram escutados a providenciar o fornecimento de rebuçadinhos, café com leite e fruta para dormir a certas equipas de arbitragem sempre foram extremamente exigentes no que toca à lisura e à honradez. Por isso, Rui Moreira não podia ter deixado de fazer ouvir a sua voz em uníssono com a de Fernando Madureira, protagonista do livro O Líder, obra na qual relata alguns episódios curiosos ocorridos com a claque que dirige. Sobre o modo como os Super Dragões adquiriram ingressos para um Braga-Porto de 1995, por exemplo, diz Madureira, e cito: «Pelo que se comentava, muito do pessoal tinha notas falsas para comprar os bilhetes e ainda trazer troco.» A propósito de uma paragem dos Super Dragões na auto-estrada, a caminho de um Setúbal-Porto de 2002, Madureira revela: «Foi o caos! Entraram cem gajos pela área de serviço e roubaram tudo o que lhes apareceu à frente.» Foi esta mesma claque que se manifestou na companhia de Rui Moreira, e que afixou nas bancadas, no dia do Porto-Braga, uma faixa com os dizeres: «Contra… falsidade e roubalheira». Ou seja, a claque que, segundo o seu líder, pagava com notas falsas e roubava tudo o que lhe aparecia à frente, está agora precisamente contra a falsidade e a roubalheira. Enfim, toda a gente tem o direito de mudar de opinião.
No jogo contra o Braga, o Porto beneficiou da exclusão de Vandinho pela Comissão Disciplinar da Liga, e também da exclusão de Meyong por Domingos Paciência, e obteve um resultado bastante desnivelado. Na véspera, o plantel do Porto reuniu-se em torno do seu líder, o terceiro guarda-redes, para o ouvir expressar, e cito, «a indignação de que somos vítimas». O orador foi bem escolhido, na medida em que não há ninguém que compreenda melhor a situação de Hulk do que Nuno: ele também fica sempre fora dos convocados. Este é o ano em que todos os azares batem à porta da equipa portista: primeiro, Hulk e Sapunaru foram suspensos só porque espancaram quem, segundo ficou provado, não os insultou nem agrediu; agora, os portistas são, creio que em estreia mundial, «vítimas de indignação». A dura realidade é esta: sem Hulk, a equipa do Porto vê-se condenada a alinhar apenas com jogadores que trocam mesmo a bola uns com os outros, o que prejudica qualquer sistema táctico. Não são só os portistas que reclamam o regresso de Hulk. Eu, como adepto do Benfica, também. Recordo com saudade a última exibição de Hulk antes do castigo, no estádio da Luz, em que o único remate à baliza que fez saiu pela linha lateral.
Entretanto, os jogadores do Benfica, que até hoje não apareceram envolvidos em agressões em quaisquer imagens de quaisquer túneis, continuam empenhados em levar a cabo uma actividade que parece ter caído em desuso: jogar futebol. Mas, nos últimos 30 minutos do jogo contra o Hertha, o Benfica não acrescentou qualquer golo aos quatro que marcou na primeira hora — o que parece indicar que, como dizem os críticos, a equipa está cansada. Às goleadas exuberantes do início da época, sucedem-se agora vitórias tangenciais por magros 4-0. A gestão que Jorge Jesus fez do plantel produziu esta triste equipa exausta que lidera o campeonato isolada com o melhor ataque e a melhor defesa. É triste, este cansaço. Quem me dera estar em terceiro, cheio de força, com o plantel correctamente gerido, a seis pontos do primeiro e a cinco do segundo. Mas não se pode ter tudo.
sábado, fevereiro 27, 2010
quarta-feira, fevereiro 24, 2010
terça-feira, fevereiro 23, 2010
A secretária do Sócrates!!!
A secretária do Sócrates era apaixonada por ele, mas ele não percebia.
Um dia, depois do expediente, ela entrou na sala dele, com um vestido provocante, bem decotado, fechou a porta atrás de si, caminhou languidamente até à mesa, com ares de Monica Lewinski e propôs:
- Sr. Primeiro Ministro, vamos fazer uma sacanagem?
- Vamos! Onde é que eu assino?
Um dia, depois do expediente, ela entrou na sala dele, com um vestido provocante, bem decotado, fechou a porta atrás de si, caminhou languidamente até à mesa, com ares de Monica Lewinski e propôs:
- Sr. Primeiro Ministro, vamos fazer uma sacanagem?
- Vamos! Onde é que eu assino?
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domingo, fevereiro 21, 2010
Talibimbos(*)
(*) AQUELA CAMBADA A FAZEREM-SE COITADINHOS.
(créditos: fotos retiradas com muito cuidado do serbenfiquista.com)
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sábado, fevereiro 20, 2010
A chama imensa: Vamos contar mentiras
Por Ricardo Araújo Pereira in (Abola 20-02-2010)
HÁ duas alturas em que uma equipa consegue fazer uma época mítica. Uma é quando os seus jogadores praticam bom futebol, despacham os adversários com goleadas, enchem os estádios. Outra é quando os seus adeptos se entretêm a inventar mitos. Na impossibilidade de verem a sua equipa cumprir os requisitos da primeira, há colunistas que se vêem forçados a optar pela segunda. É o caso de Miguel Sousa Tavares. A sua última crónica era um soberbo monumento de mistificação. Dizia ele sobre o Benfica: «[n]o último campeonato ganho, o do Trapattoni, (…) nos últimos dez jogos todos os golos dos encarnados aconteceram de penalty e livres inventados ou duvidosos à entrada da área». Ou seja: no ano em que o Porto teve três treinadores, e na mesma época em que obteve o recorde de maior derrota caseira da liga (os célebres 0-4 frente ao Nacional), como conseguiu o Benfica ganhar o campeonato? Como é óbvio, com o auxílio da arbitragem. De outro modo, não se concebe como teria podido superiorizar-se ao fortíssimo Porto de Del Neri, Fernandez e Couceiro. Não houve presidentes do Benfica a receber árbitros em casa, nem vice-presidentes apanhados a oferecer quinhentinhos, nem viagens pagas ao Brasil — mas foi demasiado evidente que os árbitros beneficiaram o Benfica naqueles «últimos dez jogos», em que «todos os golos dos encarnados aconteceram de penalty e livres inventados ou duvidosos à entrada da área». Só há um pequeníssimo problema. É que isto é mentira (lamento, mas não há outra palavra). Nos últimos dez jogos desse campeonato, o Benfica jogou, por exemplo, com o Gil Vicente. Ganhou por 2-0, com um golo de Mantorras de bola corrida, a passe de Manuel Fernandes, e outro de Miguel, também de bola corrida, a passe de João Pereira. Depois, jogou com o Setúbal. Voltou a ganhar por 2-0, com um golo de Manuel Fernandes de bola corrida (belo remate de fora da área) e outro de Geovanni, também de bola corrida, na sequência de jogada pela direita. A seguir, jogou com o Marítimo. Ganhou por 4-3, com dois belos golos de Nuno Gomes, ambos de bola corrida (um a passe de Miguel e outro após centro de Geovanni), outro de Mantorras, em lance de (talvez o leitor já tenha adivinhado) bola corrida, e ainda um de Miguel, em remate de fora da área, na sequência de livre de Simão. E ainda jogou com o Estoril. Ganhou por 2-1, com um golo de Mantorras, após um canto (não um penalty), e outro de Luisão, depois de um livre junto à bandeirola (não à entrada da área). Claro que houve jogos que o Benfica venceu com um golo de penalty, como o Benfica-Belenenses, curiosamente na mesma jornada em que o Porto ganhou por 1-0 ao Marítimo com um golo de McCarthy em fora-de-jogo. Mas, a menos que dez jogos tenham deixado de ser dez jogos, ou que a expressão «todos os golos dos encarnados» tenha deixado de significar «todos os golos dos encarnados», Sousa Tavares inventou um mito.
No entanto, o atraso de uma equipa no campeonato é directamente proporcional à capacidade de efabulação dos seus adeptos. Não se estranha, portanto, que Sousa Tavares tenha prosseguido: «lembro-me bem do penalty decisivo, no último jogo no Bessa, que foi dos mais anedóticos que já vi assinalado». Mais uma vez, é mentira (peço desculpa, mas não há mesmo melhor palavra) que o penalty tenha sido decisivo. O Benfica terminou o campeonato três pontos à frente do Porto. Sem o ponto que aquele penalty garantiu, teria sido campeão na mesma. Resumindo: como o Porto (ainda) não consegue vencer campeonatos estando dois pontos atrás do primeiro classificado, aquele penalty não foi, de todo, decisivo.
Finalmente, a propósito do golo do Braga, diz Sousa Tavares que «entre a saída da bola e o golo decorreram uns trinta ou quarenta segundos em que a bola passou por uns seis jogadores e poderia ter sido umas três vezes definitivamente afastada pelos jogadores do Marítimo antes do belíssimo pontapé fatal de Luís Aguiar.» Permitam-me que atalhe para informar que isto é, como dizer?, mentira. Entre a saída da bola e o golo decorreram, não quarenta, não trinta, nem mesmo vinte, mas dez segundos. E a bola passou por dois jogadores do Marítimo que, no meio de sucessivos ressaltos, não conseguiram sequer tirá-la da grande área. A título de exemplo, compare-se com o golo do Benfica ao Porto. Entre o fora-de-jogo de Urreta e o belíssimo pontapé fatal de Saviola decorreram 13 segundos. E a bola é tocada por quatro jogadores do Porto que conseguem afastá-la para bem longe da área. A diferença é que o lance do Braga é uma minudência, mas o do Benfica é uma mancha que ficará para todo o sempre.
É o que costuma acontecer aos moralistas: tanto tempo a acusar o Benfica de querer ganhar fora do campo, e afinal é o Braga que faz jogadas fora das quatro linhas. Domingos Paciência, que tem historial de estar a olhar para o chão e não conseguir ver lances polémicos, compreendeu o fiscal de linha. Disse que, provavelmente, o árbitro auxiliar não viu a bola fora porque «estava muito perto». Trata-se de uma hipótese brilhante. Pessoalmente, sempre achei que isto de colocarem os fiscais de linha junto da linha era uma estupidez. Em todo o caso, quando o Braga visitar o Benfica, talvez seja bom que Jorge Jesus jogue com dois laterais de cada lado. Um do lado de dentro da linha, outro do lado de fora.
Segundo a opinião insuspeita e prestigiada de Cruz dos Santos, apesar do que por aí se berrou e dos cabelos que se arrancaram, não é certo que tenha havido penalty sobre Ruben Micael no jogo contra o Leixões. Ruben Micael protestou, mas a verdade é que Ruben Micael protesta contra todas as decisões de todos os árbitros. Aparentemente, alguém deve dinheiro a Ruben Micael, ao menos tendo em conta a superioridade chorona que ele exibe em todas as ocasiões. É muito divertida, aquela indolência sobranceira própria de quem parece estar convencido de que é o melhor jogador português. O drama de Ruben Micael é que nem sequer é o melhor jogador madeirense.
Na Luz, embora o futebol tenha sido menos bom do que é costume, o teatro foi de alto coturno. Comovente, o modo como Bruno Vale, depois de cortar a bola com a mão, tentou enganar o árbitro fingindo ter levado com ela na cara. Foi um bom momento, mas é uma estratégia que não resulta em qualquer estádio. No Dragão, por exemplo, os guarda-redes são expulsos mesmo quando levam com a bola na cara.
Hulk incorreu numa infracção punível com uma pena de seis meses a três anos. Em princípio, se houvesse circunstâncias atenuantes, seria punido com um castigo mais próximo dos seis meses. Se houvesse circunstâncias agravantes, seria punido com uma pena mais próxima dos três anos. Apanhou quatro meses. Recordo que a lei previa um mínimo de seis. A Comissão de Disciplina alega a existência de uma forte atenuante: Hulk foi provocado. Ficou provado que os stewards não insultaram nem agrediram (enfim, o equivalente ao Guarda Abel, como muito perspicazmente têm assinalado vários adeptos do quarto classificado). Mas, ainda assim, conseguiram provocar. As piores provocações são, como sabemos, as que não consistem em insultos nem em agressões. Daí constituírem as melhores atenuantes, e contribuírem para uma punição inferior ao que a lei estipula. Vamos supor que, em vez de uma atenuante, a Comissão tinha identificado uma agravante. Alguém acredita que Hulk tivesse sido punido com um castigo superior ao limite máximo.
Genial... mais uma vez.
HÁ duas alturas em que uma equipa consegue fazer uma época mítica. Uma é quando os seus jogadores praticam bom futebol, despacham os adversários com goleadas, enchem os estádios. Outra é quando os seus adeptos se entretêm a inventar mitos. Na impossibilidade de verem a sua equipa cumprir os requisitos da primeira, há colunistas que se vêem forçados a optar pela segunda. É o caso de Miguel Sousa Tavares. A sua última crónica era um soberbo monumento de mistificação. Dizia ele sobre o Benfica: «[n]o último campeonato ganho, o do Trapattoni, (…) nos últimos dez jogos todos os golos dos encarnados aconteceram de penalty e livres inventados ou duvidosos à entrada da área». Ou seja: no ano em que o Porto teve três treinadores, e na mesma época em que obteve o recorde de maior derrota caseira da liga (os célebres 0-4 frente ao Nacional), como conseguiu o Benfica ganhar o campeonato? Como é óbvio, com o auxílio da arbitragem. De outro modo, não se concebe como teria podido superiorizar-se ao fortíssimo Porto de Del Neri, Fernandez e Couceiro. Não houve presidentes do Benfica a receber árbitros em casa, nem vice-presidentes apanhados a oferecer quinhentinhos, nem viagens pagas ao Brasil — mas foi demasiado evidente que os árbitros beneficiaram o Benfica naqueles «últimos dez jogos», em que «todos os golos dos encarnados aconteceram de penalty e livres inventados ou duvidosos à entrada da área». Só há um pequeníssimo problema. É que isto é mentira (lamento, mas não há outra palavra). Nos últimos dez jogos desse campeonato, o Benfica jogou, por exemplo, com o Gil Vicente. Ganhou por 2-0, com um golo de Mantorras de bola corrida, a passe de Manuel Fernandes, e outro de Miguel, também de bola corrida, a passe de João Pereira. Depois, jogou com o Setúbal. Voltou a ganhar por 2-0, com um golo de Manuel Fernandes de bola corrida (belo remate de fora da área) e outro de Geovanni, também de bola corrida, na sequência de jogada pela direita. A seguir, jogou com o Marítimo. Ganhou por 4-3, com dois belos golos de Nuno Gomes, ambos de bola corrida (um a passe de Miguel e outro após centro de Geovanni), outro de Mantorras, em lance de (talvez o leitor já tenha adivinhado) bola corrida, e ainda um de Miguel, em remate de fora da área, na sequência de livre de Simão. E ainda jogou com o Estoril. Ganhou por 2-1, com um golo de Mantorras, após um canto (não um penalty), e outro de Luisão, depois de um livre junto à bandeirola (não à entrada da área). Claro que houve jogos que o Benfica venceu com um golo de penalty, como o Benfica-Belenenses, curiosamente na mesma jornada em que o Porto ganhou por 1-0 ao Marítimo com um golo de McCarthy em fora-de-jogo. Mas, a menos que dez jogos tenham deixado de ser dez jogos, ou que a expressão «todos os golos dos encarnados» tenha deixado de significar «todos os golos dos encarnados», Sousa Tavares inventou um mito.
No entanto, o atraso de uma equipa no campeonato é directamente proporcional à capacidade de efabulação dos seus adeptos. Não se estranha, portanto, que Sousa Tavares tenha prosseguido: «lembro-me bem do penalty decisivo, no último jogo no Bessa, que foi dos mais anedóticos que já vi assinalado». Mais uma vez, é mentira (peço desculpa, mas não há mesmo melhor palavra) que o penalty tenha sido decisivo. O Benfica terminou o campeonato três pontos à frente do Porto. Sem o ponto que aquele penalty garantiu, teria sido campeão na mesma. Resumindo: como o Porto (ainda) não consegue vencer campeonatos estando dois pontos atrás do primeiro classificado, aquele penalty não foi, de todo, decisivo.
Finalmente, a propósito do golo do Braga, diz Sousa Tavares que «entre a saída da bola e o golo decorreram uns trinta ou quarenta segundos em que a bola passou por uns seis jogadores e poderia ter sido umas três vezes definitivamente afastada pelos jogadores do Marítimo antes do belíssimo pontapé fatal de Luís Aguiar.» Permitam-me que atalhe para informar que isto é, como dizer?, mentira. Entre a saída da bola e o golo decorreram, não quarenta, não trinta, nem mesmo vinte, mas dez segundos. E a bola passou por dois jogadores do Marítimo que, no meio de sucessivos ressaltos, não conseguiram sequer tirá-la da grande área. A título de exemplo, compare-se com o golo do Benfica ao Porto. Entre o fora-de-jogo de Urreta e o belíssimo pontapé fatal de Saviola decorreram 13 segundos. E a bola é tocada por quatro jogadores do Porto que conseguem afastá-la para bem longe da área. A diferença é que o lance do Braga é uma minudência, mas o do Benfica é uma mancha que ficará para todo o sempre.
É o que costuma acontecer aos moralistas: tanto tempo a acusar o Benfica de querer ganhar fora do campo, e afinal é o Braga que faz jogadas fora das quatro linhas. Domingos Paciência, que tem historial de estar a olhar para o chão e não conseguir ver lances polémicos, compreendeu o fiscal de linha. Disse que, provavelmente, o árbitro auxiliar não viu a bola fora porque «estava muito perto». Trata-se de uma hipótese brilhante. Pessoalmente, sempre achei que isto de colocarem os fiscais de linha junto da linha era uma estupidez. Em todo o caso, quando o Braga visitar o Benfica, talvez seja bom que Jorge Jesus jogue com dois laterais de cada lado. Um do lado de dentro da linha, outro do lado de fora.
Segundo a opinião insuspeita e prestigiada de Cruz dos Santos, apesar do que por aí se berrou e dos cabelos que se arrancaram, não é certo que tenha havido penalty sobre Ruben Micael no jogo contra o Leixões. Ruben Micael protestou, mas a verdade é que Ruben Micael protesta contra todas as decisões de todos os árbitros. Aparentemente, alguém deve dinheiro a Ruben Micael, ao menos tendo em conta a superioridade chorona que ele exibe em todas as ocasiões. É muito divertida, aquela indolência sobranceira própria de quem parece estar convencido de que é o melhor jogador português. O drama de Ruben Micael é que nem sequer é o melhor jogador madeirense.
Na Luz, embora o futebol tenha sido menos bom do que é costume, o teatro foi de alto coturno. Comovente, o modo como Bruno Vale, depois de cortar a bola com a mão, tentou enganar o árbitro fingindo ter levado com ela na cara. Foi um bom momento, mas é uma estratégia que não resulta em qualquer estádio. No Dragão, por exemplo, os guarda-redes são expulsos mesmo quando levam com a bola na cara.
Hulk incorreu numa infracção punível com uma pena de seis meses a três anos. Em princípio, se houvesse circunstâncias atenuantes, seria punido com um castigo mais próximo dos seis meses. Se houvesse circunstâncias agravantes, seria punido com uma pena mais próxima dos três anos. Apanhou quatro meses. Recordo que a lei previa um mínimo de seis. A Comissão de Disciplina alega a existência de uma forte atenuante: Hulk foi provocado. Ficou provado que os stewards não insultaram nem agrediram (enfim, o equivalente ao Guarda Abel, como muito perspicazmente têm assinalado vários adeptos do quarto classificado). Mas, ainda assim, conseguiram provocar. As piores provocações são, como sabemos, as que não consistem em insultos nem em agressões. Daí constituírem as melhores atenuantes, e contribuírem para uma punição inferior ao que a lei estipula. Vamos supor que, em vez de uma atenuante, a Comissão tinha identificado uma agravante. Alguém acredita que Hulk tivesse sido punido com um castigo superior ao limite máximo.
Genial... mais uma vez.
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sexta-feira, fevereiro 12, 2010
quarta-feira, fevereiro 10, 2010
Frase do dia.
É Carvalhal, ninguém leva a mal!
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sábado, fevereiro 06, 2010
A chama imensa: Se Augusto Duarte ainda apitasse, o seu Braguinha estaria em segundo?
Por Ricardo Araújo Pereira in (Abola, 06-02-2009)
Se o Braga tivesse oferecido um prémio de 50.000 euros aos seus capitães de equipa, teria a equipa conseguido ultrapassar o poderoso Rio Ave em casa? É possível. Como não conseguiu, havia que desviar as atenções do facto de, depois de Domingos ter prometido fazer melhor do que na época passada, o Braga ter saído da Liga Europa ainda na 3.ª pré-eliminatória, ter sido eliminado da Taça da Liga exactamente na mesma fase do ano anterior, e ter caído frente ao Rio Ave em casa na Taça de Portugal, quando na época passada tinha sido eliminado pelo Nacional fora. Como sempre acontece, até porque a eficácia do método é comprovada, as atenções foram desviadas à custa do Benfica. António Salvador disse que o Braga não precisa de antecipar jogos para ser primeiro. Não é exactamente verdade. O Braga não precisa de antecipar jogos porque não joga para as competições europeias desde Agosto.
Primeiro, a Comissão Disciplinar da Liga puniu Cardozo com dois jogos de suspensão por actos que todas as imagens demonstram que ele não cometeu. Tudo normal. Agora, a mesma Comissão resolveu punir alguns jogadores do Braga por agressões que as imagens da Sport TV têm a indelicadeza de documentar. Como é óbvio, houve escândalo. O clube que o árbitro irradiado refere nas escutas como «o meu Braguinha» não aprecia a justiça desportiva. Quem diria?
Apareceram finalmente as imagens dos acontecimentos que ocorreram no túnel da Luz — e, como não podia deixar de ser, mostram que a culpa é toda do Benfica. Os jogadores do Porto, depois de, apesar dos três trincos, não terem conseguido suster Urreta, Luís Filipe e seus pares, dirigiram-se para o balneário com uma calma e boa disposição que só as mais infames provocações poderiam abalar. Foi precisamente o que aconteceu. Fernando foi imediatamente provocado pela manga do túnel, e aplicou-lhe um justificadíssimo pontapé. Hulk, que resolveu ficar à espera da equipa de arbitragem, seguramente para a felicitar, foi provocado por Rui Cerqueira, director de comunicação do Porto, que o puxou várias vezes na direcção do balneário, certamente instruído por alguém do Benfica. A seguir começaram as provocações dos stewards, que as imagens não mostram mas constam da nota de culpa da Liga. Em que consistiu a pérfida provocação dos stewards? Fizeram considerações acerca de uma hipotética actividade profissional isenta de impostos levada a cabo pelas mães dos portistas? Levantaram infundadas dúvidas sobre a orientação sexual dos jogadores do Porto ou a honradez das suas esposas? Pior, muito pior. Segundo o documento da Liga, os stewards tiveram a desfaçatez de se dirigirem aos portistas dizendo (e peço desculpa aos leitores mais sensíveis pelo teor dos insultos que reproduzo a seguir): «Vão lá para dentro.» E ainda, como se não bastasse: «Voltem lá para cima.» Estes ordinários, quando toca a ofender, esmeram-se. E depois admiram-se que as pessoas decentes percam a cabeça. Ainda esta semana, segundo o DN, Bruno Alves agrediu Tomás Costa num treino. O Porto não cortou relações com o DN e Jesualdo Ferreira deixou Bruno Alves na bancada, o que parece indicar que o defesa terá mesmo cometido a agressão. Só não se sabe ainda como é que os stewards da Luz se terão infiltrado no treino do Porto, e de que modo conseguiram provocar Bruno Alves a ponto de o fazer descarregar uns bananos no pobre argentino. Mas é óbvio que serão responsabilizados por isso muito em breve.
Na curta visita turística que fez à cidade invicta, o ex-futuro reforço do Porto Kléber terá visto, ainda assim, muita coisa. Se calhar, viu que um administrador da SAD do clube que o queria contratar se demitiu, viu as escutas do presidente do mesmo clube no YouTube, viu um ex-futuro companheiro de equipa a agredir outro no treino e viu as imagens do túnel nos telejornais. Aposto que Kléber decidiu não assinar pelo Porto em cinco minutos.
Pinto da Costa gaba-se de não estender a mão «ao do cabelo branco», mas a equipa «do de cabelo branco» nunca recusa dar uma mãozinha à equipa de Pinto da Costa. Em altura de crise, o Porto sabe que pode contar sempre com o Sporting. E, depois de os sportinguistas terem aplaudido o principal reforço de Inverno do Porto em Alvalade, os portistas retribuíram aplaudindo de pé o golo de Liedson no Dragão. O futebol assim é bonito.
Se o Braga tivesse oferecido um prémio de 50.000 euros aos seus capitães de equipa, teria a equipa conseguido ultrapassar o poderoso Rio Ave em casa? É possível. Como não conseguiu, havia que desviar as atenções do facto de, depois de Domingos ter prometido fazer melhor do que na época passada, o Braga ter saído da Liga Europa ainda na 3.ª pré-eliminatória, ter sido eliminado da Taça da Liga exactamente na mesma fase do ano anterior, e ter caído frente ao Rio Ave em casa na Taça de Portugal, quando na época passada tinha sido eliminado pelo Nacional fora. Como sempre acontece, até porque a eficácia do método é comprovada, as atenções foram desviadas à custa do Benfica. António Salvador disse que o Braga não precisa de antecipar jogos para ser primeiro. Não é exactamente verdade. O Braga não precisa de antecipar jogos porque não joga para as competições europeias desde Agosto.
Primeiro, a Comissão Disciplinar da Liga puniu Cardozo com dois jogos de suspensão por actos que todas as imagens demonstram que ele não cometeu. Tudo normal. Agora, a mesma Comissão resolveu punir alguns jogadores do Braga por agressões que as imagens da Sport TV têm a indelicadeza de documentar. Como é óbvio, houve escândalo. O clube que o árbitro irradiado refere nas escutas como «o meu Braguinha» não aprecia a justiça desportiva. Quem diria?
Apareceram finalmente as imagens dos acontecimentos que ocorreram no túnel da Luz — e, como não podia deixar de ser, mostram que a culpa é toda do Benfica. Os jogadores do Porto, depois de, apesar dos três trincos, não terem conseguido suster Urreta, Luís Filipe e seus pares, dirigiram-se para o balneário com uma calma e boa disposição que só as mais infames provocações poderiam abalar. Foi precisamente o que aconteceu. Fernando foi imediatamente provocado pela manga do túnel, e aplicou-lhe um justificadíssimo pontapé. Hulk, que resolveu ficar à espera da equipa de arbitragem, seguramente para a felicitar, foi provocado por Rui Cerqueira, director de comunicação do Porto, que o puxou várias vezes na direcção do balneário, certamente instruído por alguém do Benfica. A seguir começaram as provocações dos stewards, que as imagens não mostram mas constam da nota de culpa da Liga. Em que consistiu a pérfida provocação dos stewards? Fizeram considerações acerca de uma hipotética actividade profissional isenta de impostos levada a cabo pelas mães dos portistas? Levantaram infundadas dúvidas sobre a orientação sexual dos jogadores do Porto ou a honradez das suas esposas? Pior, muito pior. Segundo o documento da Liga, os stewards tiveram a desfaçatez de se dirigirem aos portistas dizendo (e peço desculpa aos leitores mais sensíveis pelo teor dos insultos que reproduzo a seguir): «Vão lá para dentro.» E ainda, como se não bastasse: «Voltem lá para cima.» Estes ordinários, quando toca a ofender, esmeram-se. E depois admiram-se que as pessoas decentes percam a cabeça. Ainda esta semana, segundo o DN, Bruno Alves agrediu Tomás Costa num treino. O Porto não cortou relações com o DN e Jesualdo Ferreira deixou Bruno Alves na bancada, o que parece indicar que o defesa terá mesmo cometido a agressão. Só não se sabe ainda como é que os stewards da Luz se terão infiltrado no treino do Porto, e de que modo conseguiram provocar Bruno Alves a ponto de o fazer descarregar uns bananos no pobre argentino. Mas é óbvio que serão responsabilizados por isso muito em breve.
Na curta visita turística que fez à cidade invicta, o ex-futuro reforço do Porto Kléber terá visto, ainda assim, muita coisa. Se calhar, viu que um administrador da SAD do clube que o queria contratar se demitiu, viu as escutas do presidente do mesmo clube no YouTube, viu um ex-futuro companheiro de equipa a agredir outro no treino e viu as imagens do túnel nos telejornais. Aposto que Kléber decidiu não assinar pelo Porto em cinco minutos.
Pinto da Costa gaba-se de não estender a mão «ao do cabelo branco», mas a equipa «do de cabelo branco» nunca recusa dar uma mãozinha à equipa de Pinto da Costa. Em altura de crise, o Porto sabe que pode contar sempre com o Sporting. E, depois de os sportinguistas terem aplaudido o principal reforço de Inverno do Porto em Alvalade, os portistas retribuíram aplaudindo de pé o golo de Liedson no Dragão. O futebol assim é bonito.
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sexta-feira, fevereiro 05, 2010
As imagens que a sporttv não quis repetir!
eh eh eh
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Corrupção
quarta-feira, fevereiro 03, 2010
O texto de Mário Crespo que não foi publicado
O Fim da Linha
Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento.
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva
Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um
executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de
um hotel em Lisboa.
Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida
nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado
como sendo mentalmente débil ("um louco") a necessitar de ("ir para o
manicómio"). Fui descrito como "um profissional impreparado". Que
injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de
tanto saber em Portugal.
Definiram-me como "um problema" que teria que ter "solução". Houve, no
restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito
chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou
(por escrito): "(...) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se
inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (...)".
É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de
adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de
colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem
essa dialéctica só há monólogos.
Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do
momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a
validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio
das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para
qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos
em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos
executores acríticos venerandos e obrigados.
Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios
são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos
passam a ser "um problema" que exige "solução". Portugal, com José
Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que
os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos "problemas" nos media como
tinha em 2009.
O "problema" Manuela Moura Guedes desapareceu.
O problema José Eduardo Moniz foi "solucionado".
O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou
de ser "um problema".
Foi-se o "problema" que era o Director do Público.
Agora, que o "problema" Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido
na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o
Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação
social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento,
mais "um problema que tem que ser solucionado". Eu.
Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010)
na imprensa.
Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento.
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva
Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um
executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de
um hotel em Lisboa.
Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida
nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado
como sendo mentalmente débil ("um louco") a necessitar de ("ir para o
manicómio"). Fui descrito como "um profissional impreparado". Que
injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de
tanto saber em Portugal.
Definiram-me como "um problema" que teria que ter "solução". Houve, no
restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito
chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou
(por escrito): "(...) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se
inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (...)".
É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de
adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de
colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem
essa dialéctica só há monólogos.
Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do
momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a
validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio
das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para
qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos
em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos
executores acríticos venerandos e obrigados.
Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios
são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos
passam a ser "um problema" que exige "solução". Portugal, com José
Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que
os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos "problemas" nos media como
tinha em 2009.
O "problema" Manuela Moura Guedes desapareceu.
O problema José Eduardo Moniz foi "solucionado".
O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou
de ser "um problema".
Foi-se o "problema" que era o Director do Público.
Agora, que o "problema" Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido
na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o
Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação
social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento,
mais "um problema que tem que ser solucionado". Eu.
Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010)
na imprensa.
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