A constipação do italiano
Por
ANTÓNIO BAGÃO FÉLIX
"Sem rodeios, o que, na minha opinião, vi na expulsão de Miccoli no jogo deste domingo foi um acto completamente injustificado e injusto. Até pareceu premeditado. Premeditação que, segundo o dicionário, quer dizer «planeamento consciente de uma acção que se quer levar a cabo».
Calhou ao jogador italiano o duplo amarelo. Na fila de espera já estavam, porém, Simão e Nuno Gomes. Não certamente por acaso estes três e não outros três. Com o tempo, convenci-me que um haveria de sair. Vem aí um jogo no Porto, pensei desconfiado…
Miccoli é expulso num jogo trágico-cómico de cartões (um jogo e não uma guerra, como pudemos constatar) sem ter cometido uma única falta! É obra!
Oprimeiro cartão deveria ter ido direitinho para o árbitro e auxiliar por terem anulado e assinalado, mal e a más horas, uma jogada de golo do Benfica. Mas é o italiano quem leva um amarelo por não ter um sistema de sincronização instantânea dos seus pés com o apito do árbitro.
Apartir daí temi que Miccoli não pudesse sequer tossir ou espirrar a menos de dois metros de um adversário.
Osegundo amarelo foi-lhe dado com mais «energia de braços», ridiculamente ostentada, do que ao jogador que lhe infligiu uma carga.
Atelevisão é implacável. Mostra tudo, desde o fácies rosado do árbitro não disfarçando a consciência de missão cumprida de uma tão certeira EMG (expulsão mínima garantida. Mínima ou máxima? …), como a «violentíssima e malcriada» reacção do «poverinno» do italiano.
De tal maneira foi inusitado este cartão que até o jogador do Estrela ficou boquiaberto e veio, depois, dizer que nada se passou! O árbitro terá visto o que eu desconfiava. Um espirro sorridente ou uma tosseira seca do atleta do Benfica! Não se pode estar constipado em vésperas de ir ao Porto…
Adois quilómetros de distância, outro árbitro, mais liberal e receoso, tudo perdoa a Paulo Assunção e Lucho Gonzalez que, não fora ser o Benfica o seu adversário no sábado, talvez não tivessem acabado o jogo. Árbitros bem sincronizados, não haja dúvidas.
Em futebol, costumo dividir os erros da arbitragem em dois tipos: os que resultam de um árbitro não ver uma situação que aconteceu (uma agressão, uma mão, uma falta) e os que resultam de o árbitro «ver» aquilo que não aconteceu. Os primeiros, eu compreendo, desculpo e até acabo por aceitar, mesmo descontando a habitual parcialidade com que vemos os jogos. Os segundos, isto é as invenções ou imaginações virtuais, podem ter muito de premeditado ou enviesado e, enquanto tal, são mais difíceis de entender e de aceitar. Foi o caso na Luz este domingo.
Não pretendo fazer a apologia da insensatez, dureza ou indisciplina. Por exemplo, achei bem que Petit tivesse sido expulso no Bessa e julgo mesmo que deveria ter tido uma punição maior. Ele, como bom profissional que é, deve estar hoje bem arrependido. E até me insurgi contra a palmadinha no pescoço com que o treinador o afagou quando saiu do campo.
Ouvi o árbitro de domingo dizer aos microfones de uma rádio que tinha revisto os chamados lances polémicos e que se sentia de consciência tranquila.
Generosamente, «A Bola» deu-lhe 1 em 10 valores. O homem deve estar orgulhoso. Quase rebentava a escala! E bateu o recorde de cartões num jogo que, como todos pudemos constatar, foi de uma violência intolerável!
Espero que seja a mesma consciência tranquila que leve a Liga a suspender tão zeloso e cumpridor árbitro.
Hermínio Loureiro e Vítor Pereira têm aqui uma oportunidade de afirmar por actos o que têm vindo a verbalizar. Que querem mudar este estado de coisas. Que chega de despudor e impunidade. E da mais descarada batota!" -
in Jornal A Bola(24-10-2006)
Por
ANTÓNIO BAGÃO FÉLIX
"Sem rodeios, o que, na minha opinião, vi na expulsão de Miccoli no jogo deste domingo foi um acto completamente injustificado e injusto. Até pareceu premeditado. Premeditação que, segundo o dicionário, quer dizer «planeamento consciente de uma acção que se quer levar a cabo».
Calhou ao jogador italiano o duplo amarelo. Na fila de espera já estavam, porém, Simão e Nuno Gomes. Não certamente por acaso estes três e não outros três. Com o tempo, convenci-me que um haveria de sair. Vem aí um jogo no Porto, pensei desconfiado…
Miccoli é expulso num jogo trágico-cómico de cartões (um jogo e não uma guerra, como pudemos constatar) sem ter cometido uma única falta! É obra!
Oprimeiro cartão deveria ter ido direitinho para o árbitro e auxiliar por terem anulado e assinalado, mal e a más horas, uma jogada de golo do Benfica. Mas é o italiano quem leva um amarelo por não ter um sistema de sincronização instantânea dos seus pés com o apito do árbitro.
Apartir daí temi que Miccoli não pudesse sequer tossir ou espirrar a menos de dois metros de um adversário.
Osegundo amarelo foi-lhe dado com mais «energia de braços», ridiculamente ostentada, do que ao jogador que lhe infligiu uma carga.
Atelevisão é implacável. Mostra tudo, desde o fácies rosado do árbitro não disfarçando a consciência de missão cumprida de uma tão certeira EMG (expulsão mínima garantida. Mínima ou máxima? …), como a «violentíssima e malcriada» reacção do «poverinno» do italiano.
De tal maneira foi inusitado este cartão que até o jogador do Estrela ficou boquiaberto e veio, depois, dizer que nada se passou! O árbitro terá visto o que eu desconfiava. Um espirro sorridente ou uma tosseira seca do atleta do Benfica! Não se pode estar constipado em vésperas de ir ao Porto…
Adois quilómetros de distância, outro árbitro, mais liberal e receoso, tudo perdoa a Paulo Assunção e Lucho Gonzalez que, não fora ser o Benfica o seu adversário no sábado, talvez não tivessem acabado o jogo. Árbitros bem sincronizados, não haja dúvidas.
Em futebol, costumo dividir os erros da arbitragem em dois tipos: os que resultam de um árbitro não ver uma situação que aconteceu (uma agressão, uma mão, uma falta) e os que resultam de o árbitro «ver» aquilo que não aconteceu. Os primeiros, eu compreendo, desculpo e até acabo por aceitar, mesmo descontando a habitual parcialidade com que vemos os jogos. Os segundos, isto é as invenções ou imaginações virtuais, podem ter muito de premeditado ou enviesado e, enquanto tal, são mais difíceis de entender e de aceitar. Foi o caso na Luz este domingo.
Não pretendo fazer a apologia da insensatez, dureza ou indisciplina. Por exemplo, achei bem que Petit tivesse sido expulso no Bessa e julgo mesmo que deveria ter tido uma punição maior. Ele, como bom profissional que é, deve estar hoje bem arrependido. E até me insurgi contra a palmadinha no pescoço com que o treinador o afagou quando saiu do campo.
Ouvi o árbitro de domingo dizer aos microfones de uma rádio que tinha revisto os chamados lances polémicos e que se sentia de consciência tranquila.
Generosamente, «A Bola» deu-lhe 1 em 10 valores. O homem deve estar orgulhoso. Quase rebentava a escala! E bateu o recorde de cartões num jogo que, como todos pudemos constatar, foi de uma violência intolerável!
Espero que seja a mesma consciência tranquila que leve a Liga a suspender tão zeloso e cumpridor árbitro.
Hermínio Loureiro e Vítor Pereira têm aqui uma oportunidade de afirmar por actos o que têm vindo a verbalizar. Que querem mudar este estado de coisas. Que chega de despudor e impunidade. E da mais descarada batota!" -
in Jornal A Bola(24-10-2006)
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