Excelente artigo de opinião no Sportugal:
Mais do que as explosivas e gravíssimas revelações de Carolina Salgado, apetece-me comentar a reacção dos “opinadores pró-FC Porto” aos factos contidos em “Eu, Carolina”.
Fosse eu portista estaria, obviamente, envergonhado e com poucos motivos para sorrir. Só de pensar que algum dos títulos do meu clube possam ter sido conquistados com base em esquemas fraudulentos, dá-me vontade de fugir. Tenho muitos e bons amigos adeptos do FC Porto e percebo bem o drama que devem estar a viver.
Quanto aos “opinadores profissionais” do FCP, três merecem uma palavra.
Conheço e admiro Rui Moreira pela delicadeza e cuidado que põe nas suas intervenções no "Trio de Ataque", da RTP, mesmo quando é “marcado em cima” por António Pedro Vasconcelos. Rui Moreira é uma pessoa inteligente e a Associação Comercial do Porto é já, manifestamente, insuficiente para alguém que tem revelado dotes para a política ou para o dirigismo desportivo.
Conheço, tenho respeito e muita consideração por José Guilherme Aguiar, uma das pessoas que em Portugal mais sabe de futebol. A sua reacção ao livro, no último "O Dia Seguinte", foi muito pouco feliz. Carolina Salgado merece respeito como qualquer pessoa. Percebo o incómodo e a fúria de Guilherme Aguiar, mas, como diz o povo, na sua mais acertada sabedoria, quem semeia ventos, colhe tempestades.
Quanto a Miguel Sousa Tavares, conheço a figura, as manhas, os truques, e confesso que deixei de ler há muito tempo as suas crónicas em "A Bola", tal a quantidade de disparates e dislates que vai escrevendo semanalmente. Normalmente, este escriba distorce os factos, ataca o Benfica de forma impiedosa e insultuosa, e sobre o "Apito Dourado" é melhor nem falar. Já li uma prosa sua em que teve a lata de sentenciar que o único problema de Pinto da Costa, neste processo, era do foro disciplinar, ocultando as questões de índole criminal. Ou seja, os crimes por que esteve ou ainda está indiciado o presidente dos dragões – corrupção desportiva activa, tráfico de influência, falsificação de documento e abuso de poder sob a forma de instigação.
O que este senhor diz na TVI e escreve no mais importante diário desportivo do País é-me absolutamente indiferente. Por isso, a sua última crónica a defender a demissão de Pinto da Costa é, concedo, imperdível, surreal e merece reflexão.
Diz ele que, em nome do seu código de conduta e dos seus valores de vida (etc., etc.), o presidente do FC Porto devia demitir-se para poupar o clube a semelhante vexame, propondo o seu regresso quando estiver provada a sua inocência.
Ora aqui temos já a sentença dada. Escusam os tribunais e os operadores judiciários de gastar dinheiro ao erário público, pois a sentença está dada - Pinto da Costa é, obviamente, inocente.
Quanto aos factos em si, a eventual compra de árbitros para jogos do FCP, a alegada tareia a um corajoso autarca, cujas denúncias estiveram na génese do maior escândalo do futebol português, e a extraordinária fuga de informação que terá permitido a Pinto da Costa fugir à justiça, nem uma linha.
O essencial, para este senhor, é a qualidade do livro, que ele carinhosamente trata por “um pedaço de papel higiénico”. A isto chama-se excesso de elegância!
Infelizmente, há gente em Portugal que graças ao facto de conhecer as pessoas certas nos sítios certos têm palco em jornais, rádios e televisões. Podem dizer e escrever os maiores disparates que ninguém contesta e ainda são pagos para isso!
Em vez de se cingir aos factos, que por si só são gravíssimos, o “novo moralista azul e branco” preferiu generalizar os casos, pondo no mesmo saco Valentim Loureiro, João Loureiro, Gilberto Madaíl, José Veiga e Luís Filipe Vieira.
Comparar as condutas do presidente do Benfica, que corajosamente e de forma algo quixotesca se bateu pelo andamento do processo "Apito Dourado", com as condutas do presidente do FC Porto, reveladas pela sua ex-companheira e indiciadas nos vários processos criminais, é um insulto à inteligência das pessoas.
Luís Filipe Vieira pode não ser a pessoa mais simpática do mundo. Admito que a sua frontalidade exaspere qualquer adepto de um clube rival, mas Luís Filipe Vieira, que me conste, nunca esteve indiciado por corrupção ou tráfico de influências. Não me consta que o presidente do Benfica tenha mandado contratar algum serviço de prostitutas para premiar os “árbitros amigos” ou que tenha encomendado alguma tareia a alguém.
Há artigos que não deviam merecer sequer comentários, mesmo que sejam escritos num jornal desportivo de referência. Mas há limites para a desfaçatez e para a falta de vergonha.
Pedro Guerra
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