domingo, janeiro 27, 2008

Desculpem a interrupção, estamos de volta

Por Ricardo Araújo Pereira, in jornal A Bola.

Assim é que é bonito. Para mim, um bom jogo é isto: à meia hora o Benfica já ganha por 2-0; depois sofre-se um bocadinho, que as vitórias sem o sofrimento nem sabem a nada; e no final ainda se marca outro, para irmos para a cama mais aconchegadinhos. O Guimarães bateu-se bravamente, mas parece-me que a discussão que decorreu ao longo da semana é absurda. Será o Guimarães o quarto grande? Não brinquem comigo. Toda a gente sabe que o quarto grande é o Sporting. Eu sou do Benfica, mas tenho objectividade e isenção para ver estas coisas.

Quem, como eu, viu o jogo em casa, não pôde deixar de ficar indignado com a realização da TVI. Como é possível que os momentos mais importantes da partida tenham tido um tratamento tão desleixado? O realizador não deu uma única repetição em câmara lenta da cara do Manuel Cajuda a seguir aos golos. São momentos de rara beleza a que o realizador quase não deu atenção. Aqueles momentos em que é possível ler no rosto de Cajuda o seu pensamento: «Ó diabe… Mais um gole. Estou preocupade. Queres ver que ainda não é desta que eu chegue a um clube grande?»

Não quero ser mal interpretado. Pessoalmente, não tenho nada contra a ambição do Manuel Cajuda. Por mim, ele começava a treinar um grande já amanhã. Como benfiquista, gostava imenso de o ver a treinar o Porto ou o Sporting.

Se eu mandasse, o Stephen Hawking escrevia um livro de 300 páginas sobre o primeiro golo do Cardozo. Julgo que há ali princípios da física que ainda não foram postulados por ninguém. Da física e da tauromaquia, porque para mim é óbvio que aquela bola é toureira. Vai ao meio da baliza provocar o guardião e depois faz uma chicuelina para a direita até entrar na malha lateral. Olé. A Adidas devia fazer uma bola forrada com jaqueta de alta escola, só para os livres do Cardozo. Por mim, até se punha o paraguaio a marcar os pontapés de baliza.

No entanto, e como é evidente, nem tudo está bem neste Benfica. Há jogadores que ainda não estão adaptados ao futebol português. Por exemplo, o Rui Costa. Em Itália, se um jogador sofre uma falta à entrada da área, marca-se um livre. Cá, leva cartão amarelo quando está deitado na maca, a sair do campo. Pode ser que ele se habitue.

COMO é diferente o amor em Portugal, suspira um dos cardeais de Júlio Dantas. O senhor cardeal, claramente, não conhecia o amor cigano, que é de todos o mais sui generis. Dois ou três dias depois de ter dito que estava farto de ser assobiado, Ricardo Quaresma renovou o contrato com o Porto e disse que amava o clube. «Estou farto de ti. Amo-te.» Mais ou menos isto, mas dito no decorrer de uma semana. Não me venham com poemas. Isto sim, é um amor diferente.

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