Por Ricardo Araújo Pereira in ABola
A única alternativa que resta a quem gosta de futebol, em Portugal, é ir estudar direito. E, mesmo assim, não há garantias de virmos a perceber o que se passa, uma vez que nem todos os juristas atingem certas subtilezas da lei desportiva. Não admira. Há clubes que são condenados, não recorrem da pena, admitindo a culpa e aceitando a sentença, mas a decisão, inexplicavelmente, não transita. Depois, certos dirigentes recorrem, perdem o recurso, e continua a haver quem defenda que a decisão não transitou. Parece claro, então, que se transita menos no futebol português do que no IC 19 às 8.30 da manhã de segunda-feira. Não é difícil concluir que o nosso futebol não precisa de jogadores, nem de dirigentes, nem de juízes, nem do secretário de Estado do Desporto. O futebol português precisa é de um polícia sinaleiro. A ver se isto começa a transitar como deve ser.
Eu, que só esta semana comprei o livro de introdução ao estudo do direito, ainda não percebi o que é preciso para que uma decisão transite em julgado. Pensava, calculem, que bastava que um organismo apto para decidir decidisse, e que o réu aceitasse a decisão não recorrendo. Além disso, estava convencido de que, quando um recurso é indeferido, a decisão transitava finalmente em julgado. Mas não. Por mais voltas que o processo leve, não há maneira de transitar, o desgraçado. Comparado com o futebol português, o bloqueio dos camionistas foi uma brincadeira de crianças.
Neste momento, porém, o Porto já nem é tanto culpado de tentativa de corrupção (ainda que tenha admitido a culpa e aceitado a punição, tendo mesmo, em determinado momento, subtraído os seis pontos correspondentes ao castigo na tabela classificativa publicada no seu sítio oficial) como de falta de educação. É preciso ser muito malcriado para continuar a querer entrar na Liga dos Campeões da UEFA quando o presidente da UEFA já disse que não os queria lá. Parecem aqueles vendedores ambulantes que metem o pé na porta de quem não deseja comprar-lhes as enciclopédias. Infelizmente, as palavras do presidente da UEFA não são passíveis de recurso (embora o Porto não tenha por hábito recorrer de sentenças desonrosas), e por uma vez acabaram por transitar, e a grande velocidade, pelas páginas dos jornais dessa Europa. Haja alguma coisa que transite em todo este processo.
É claro que, ao contrário do que se diz, eu não sou totalmente faccioso. Reconheço que os adeptos do Porto têm razão quando dizem que Platini não tem moral para falar, na medida em que Porto e Juventus deviam ter penas iguais. Concordo em absoluto. O Porto, tal como aconteceu com a Juventus, também devia descer de divisão. Não pensem que deixo o meu clubismo toldar-me o sentido de justiça.
Há clubes que são condenados, não recorrem da pena, admitindo a culpa e aceitando a sentença, mas a decisão, inexplicavelmente, não transitou.
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