Por Leonor Pinhão (in Abola para assinantes)
Muito interessante, sem a mais pequena dúvida, a conclusão a que chegou o Juiz do Tribunal de Gondomar.
Cabia-lhe decidir se Pinto da Costa, presidente do FC Porto, António Araújo, empresário afecto ao presidente do FC Porto, e Augusto Duarte, árbitro de futebol muitíssimo afecto às Leis do Jogo e com uma fraqueza por chocolatinhos, deveriam ou não deveriam ser presentes a julgamento na sequência do processo relativo ao jogo Nacional-Benfica, disputado na temporada de 2003/2004.
(O jogo ocorreu a 22 de Fevereiro de 2004. O Benfica perdeu por 3-2.)
O Juiz decidiu que não. Que não deveriam ir a julgamento e deixou cair a acusação do Ministério Público que sustentava que o empresário António Araújo terá tentado manipular o árbitro Augusto Duarte no sentido deste (o árbitro, naturalmente…) prejudicar o Benfica por pressão do presidente do FC Porto.
Vários factos sonantes contribuíram para a decisão do Juiz do Tribunal de Gondomar. Em primeiro lugar, não se apurou a contrapartida de que o árbitro Augusto Duarte terá beneficiado para impedir o Benfica de pontuar na Ilha da Madeira. Em segundo lugar, o presidente do FC Porto só aparece nas gravações das escutas telefónicas muito depois de, alegadamente, o empresário e o árbitro terem acertado entre si o cambalacho. Em terceiro lugar, não valia a pena…
Não valia a pena o quê?
Não valia a pena entreterem-se os citados cidadãos com tantas artimanhas se, aritmeticamente, naquela altura daquele campeonato, seguia penosamente o Benfica a 9 pontos de distância do líder, o FC Porto, estando os encarnados praticamente afastados do título.
São todas razões válidas. Ainda que discutíveis, sempre no espírito do respeito pelas decisões dos Tribunais. Respeitar a Justiça é crescermos como cidadãos. Acreditar na Justiça é um dever cívico. Aprender com a Justiça e com as decisões dos Tribunais é um factor de progresso e de maioridade intelectual. Seguir os ditames dos Juízes faz-nos mais justos e melhor preparados para o dia a dia em sociedade.
E foi tudo isto o que se passou em Gondomar no início da semana. Aprenda quem quiser aprender.
O Juiz produziu uma declaração de carácter pedagógico ao absolver os acusados do jogo Nacional-Benfica. É que não valia a pena manipular o desfecho do referido prélio visto que o Benfica estava muito atrasado na classificação.
Importante, sim, teria sido comprar o árbitro do jogo do Sporting, referente a essa mesma ronda da mesma prova, visto que os leões de Alvalade seguiam na segunda posição da tabela, bem mais perto do FC Porto do que o Benfica.
Na sua edição de ontem, o Correio da Manhã cita as palavras do Juiz de Gondomar. Ouçamo-las:
«Seria mais importante comprar o árbitro da partida do Sporting, então segundo classificado, pois a distância pontual entre FC Porto e Benfica à data, era já de nove pontos, pelo que o interesse em comprar esse jogo era relativo», disse e deu três vezes com o martelo no tampo da vetusta mesa onde se sentava.
Objectivamente, o Juiz tem razão. É que nem se discute.
Mas do ponto de vista da jurisprudência, podemos estar perante uma decisão histórica que irá autorizar, de futuro, todos os dirigentes e empresário pouco dados ao fair-play a comprar os árbitros dos jogos dos clubes que, directamente, os antecedem na tabela, tendo em conta que um Juiz, em pleno tribunal, considerou, e assim ficou lavrado, que «mais importante» é não perder tempo com terceiros, de interesse «relativo», mas sim com segundos, de interesse prático mais premente.
Tudo isto do ponto de vista dos interesses dos primeiros, que são os que vão à frente, pudera!
POR ordem de entrada em cena, a Selecção, o Benfica e o Porto passaram maus bocados ultimamente.
A Selecção empatou em casa com a Albânia, o Benfica empatou em casa com o Penafiel e o FC Porto, enfim, não empatou em casa com o Dínamo de Kiev.
Todos estes insucessos estão, de certa forma, ligados. E o grande beneficiado tem sido o Benfica. Especificando: o último reduto do Benfica, ou seja, o guarda-redes. No caso vertente, os guarda-redes.
No tempo de Scolari havia uma espécie de unanimidade em torno da Selecção que deixava para trás a doença do clubismo nas suas manifestações mais espontâneas: febre, dores de cabeça, sonolência.
No tempo de Queirós, voltou tudo isso. O clubismo, obviamente. Essa manifestação infantil da devoção ao jogo.
E, assim sendo, que bem que o Benfica tem estado na Selecção!
O nosso guarda-redes Quim, titular indiscutível da equipa das quinas, mantém-se imbatível há 180 minutos, mais os tempos dos descontos. Não sofreu um único golo na Suécia e não sofreu um único golo dos albaneses, em Braga. Isto é importante porque Quim sofreu um ataque opinativo da parte dos nossos rivais no momento em que substituiu o anterior guarda-redes da Selecção e não foram poucas as vozes que o tentaram desestabilizar, no intuito de prejudicar o Benfica, como se fosse Quim o culpado do desmoronamento táctico da Selecção nos últimos três minutos e meio do jogo da referida Selecção com a Dinamarca, ou lá o que era.
Ou seja, Quim está em grande na Selecção! Se a Selecçãao tem problemas, o problema não é nosso.
Ainda no que diz respeito ao último reduto do Benfica, convém explicar que o jogo para a Taça de Portugal com o Penafiel — tão mal apreciado pela crítica em geral e por alguns benfiquistas, desatentos em particular — mais não foi do que uma encenação brilhante, ponderada minuto a minuto — e foram 120! — para devolver ao nosso guarda-redes Moreira, que não víamos em acção há três anos, uma noite de glória, redentora de todos os seus sofrimentos e dos nossos também, como é mais do que evidente.
Correu tudo às mil maravilhas!
O «mais importante» - sempre citando o Juiz de Gondomar - era que a equipa mantivesse o nulo até ao fim do prolongamento de modo a que Moreira pudesse brilhar no desempate através da marcação de grandes penalidades. Os colegas não se pouparam a esforços. Makukula só tinha olhos para os postes, a nossa linha média esmerou-se em deixar escapar atletas penafidelenses de modo a que, de frente para eles, Moreira conseguisse desviar todas as bolas perigosas.
Moreira está em grande outra vez! O Benfica tem dois guarda-redes e, ainda que não possam jogar ao mesmo tempo, é um consolo sabê-lo.
O FC Porto também tem dois guarda-redes: Helton e Nuno. Não será fanatismo considerar que nem um nem outro estão a atravessar um bom momento. Há que ter paciência, confiar na gestão do plantel e nas artes do mestre Alves.
Foi precisamente isto que o professor Carlos Queirós tentou explicar ao presidente do FC Porto na passada terça-feira, no Estádio do Dragão. Sentados lado a lado, um falava e o outro escutava. O que foi dito ficou entre eles.
O «mais importante», como nós bem sabemos é que o Penafiel se mostrou equipa capaz de ganhar aos mais atrevidos dos albaneses. Ou duvidam?
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