Por Ricardo Araújo Pereira (in Abola para assinantes)
QUANDO o seleccionador que obteve os melhores resultados de sempre na história do futebol português foi para o Chelsea, meia dúzia de comentadores manifestaram alegria. Estamos a falar de gente cuja profissão é analisar os jogos, pensar sobre eles, e falar das jogadas de modo a que ninguém entenda. Gente entendida em futebol. Mesmo assim, festejaram a saída do seleccionador que apurou Portugal para todas as competições que disputou, foi vice-campeão da Europa e quarto classificado no Mundial. Neste momento, duvido que não tenham já uma pontinha de saudade de Scolari. Eu, com os resultados que a Selecção tem feito, até dou por mim a ter saudades de António Oliveira. Sem ofensa para Queirós.
Ao contrário do que se tem dito, porém, Portugal obteve no Brasil um bom resultado. Sempre ouvi dizer que à meia dúzia é mais barato. Nos tempos de crise em que vivemos, parece-me muito sensato optar pelo que fica mais em conta. Por outro lado, foi um jogo que serviu para estreitar as relações entre os dois países. Futebolisticamente, há uma cooperação luso-brasileira que é tão eficaz como enternecedora. Reparem: há tempos o nosso seleccionador era um brasileiro que levou Portugal aos melhores resultados de sempre; agora temos um português que faz o Brasil jogar muito bem. Estamos perante um intercâmbio que é vantajoso para ambas as partes.
É possível que, para os defensores de Queirós, o seleccionador ainda não mereça uma avaliação negativa. Para quem não achou grave a derrota com a Dinamarca e o empate com a Albânia, levar a maior goleada dos últimos 50 anos são amendoins. Até porque há sempre as forças obscuras da Federação, que não deixam o professor trabalhar. São forças que conspiram selectivamente: ajudaram Scolari a ter êxito, ou pelo menos não o prejudicaram, mas agora trabalham na sombra para minar o caminho de Carlos Queirós. Foram essas forças que, provavelmente, convenceram o professor a ir jogar ao Brasil sem trinco nem ponta-de-lança. O grande dilema, para o espectador que não conhece os meandros escuros da Federação, nem sabe quem são as pessoas que lá trabalham a favor de Scolari e contra Queirós, é o de saber se será mais vantajoso deixar o professor Queirós varrer a porcaria da Federação ou incentivar a Federação a varrer a porcaria do professor Queirós. A única convicção que é possível ter é a de que há ali porcaria de certeza absoluta.
Em todo o caso, passado este tempo sobre a partida do ex-seleccionador, creio que já não faz sentido falar do fantasma de Scolari. Aliás, se viu o jogo, Scolari terá dito, provavelmente: «O Robinho passa pelo Pepe como se ele não existisse, e o fantasma sou eu?»
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