Por Ricardo Araújo Pereira (in ABola)
SABEMOS todos como o futebol pode ser apaixonante. E, uma vez que estamos ambos, o leitor e eu, reunidos aqui n'A BOLA, sabemos que a língua portuguesa também tem o seu encanto. Não sou daqueles que aprenderam a ler com A BOLA, mas tenho pena: as irmãs vicentinas que me ensinaram o alfabeto usavam a Cartilha Maternal, onde é menos provável encontrar a palavra Benfica. Em todo o caso, e uma vez que A BOLA junta o futebol e o aprumo linguístico, hoje gostaria de colocar uma questão que é, a um tempo, filológica e futebolística: por que razão se continua a chamar, por esses estádios de futebol, «boi preto» a profissionais que já não vestem de negro? O hábito e a tradição, no mundo do futebol, não constituem explicações válidas. Estamos a falar de um público que se adapta à mudança da cor das camisolas com uma facilidade notável. Qualquer jogador que muda de clube sabe que, dois segundos depois de estar vestido de outra cor, os mesmos adeptos que sempre o trataram bem vão agora adaptar o tratamento à sua nova indumentária. O futebol é como a moda: dá-se muita atenção à roupa. Porquê, então, manter a designação «boi preto» para designar quem mudou há anos de equipamento? A razão é esta: mesmo vestindo de amarelo, eles continuam a marrar com o vermelho. O árbitro Pedro Henriques, justamente penalizado pelo observador do jogo Benfica-Nacional, está surpreendido por ter tido má nota. E mantém que o Miguel Vítor, em queda e sem ver a bola, a interceptou propositadamente. Não será altura de haver um observador de imprensa, além de um observador de jogos? Se Pedro Henriques demonstra, em entrevistas, que não sabe a diferença entre uma bola na mão e uma mão na bola, o observador de imprensa tem de entrar em acção. É esta razão que me leva a desconfiar da ideia segundo a qual o futebol melhora com a introdução das novas tecnologias. Há árbitros que não acertam uma decisão nem que vejam um jogo ao microscópio. As novas tecnologias só melhoram o futebol se os árbitros levarem um choque eléctrico sempre que ignorarem uma das leis do jogo. Julgo que é a única maneira de pôr a tecnologia ao serviço da verdade desportiva.
Se há algum aspecto tranquilizador no futebol português trata-se do seguinte: é muito improvável que, daqui a 13 anos, o Katsouranis esteja a treinar o filho do Maxi Pereira no Sporting. Que alívio. Sempre seremos poupados a uma discussão pública como a que decorre entre o nosso trinco e o nosso lateral-direito de 1995. É sempre triste ver benfiquistas a discutirem, especialmente por causa de um jogador do Sporting. Quando o tema é assim rasteiro, toda a gente percebe logo que não há maneira de elevar a discussão.
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