domingo, fevereiro 15, 2009

A chama imensa: Pedro Proença dignificou a arbitragem portuguesa.

Por Ricardo Araújo Pereira (in ABola)

RECEBI
inúmeras mensagens de gente genuinamente impressionada por eu ter previsto aqui, na véspera do Porto-Benfica, que a arbitragem de Pedro Proença seria o que veio a ser. Eu gosto muito de impressionar pessoas, mas devo confessar que, neste caso, não tenho qualquer mérito. O que se passou no Estádio do Dragão é exactamente o que se passa todos os anos. É como prever que este ano vai haver Natal em Dezembro. Não tem dificuldade nenhuma. De facto, assistir ao Porto-Benfica é ver o mesmo filme todos os anos. Há alturas do ano em que a televisão transmite sempre os mesmos filmes: é a Música no Coração no Natal, o Ben Hur na Páscoa e o Porto-Benfica a meio da época: já toda a gente sabe como é que aquilo acaba. A única coisa que vai mudando são os protagonistas. Este ano, Yebda desempenhou um papel que já foi de Kandaurov, Amaral, João Pinto, Éder e muitos outros. Não se pode dizer que seja um papel difícil de desempenhar. Na maior parte das vezes, basta estar quieto. Não é preciso fazer mesmo nada.

Na véspera do jogo, Pedro Proença disse que pretendia dignificar a arbitragem portuguesa - e fê-lo. Se tivesse dito apenas que queria dignificar a arbitragem, teria falhado. O que ele fez não tem nada a ver com arbitragem. Mas a arbitragem portuguesa é exactamente aquilo.

Quando se comete um crime, convém que haja o menor número de testemunhas possível. Talvez por isso, a organização do Porto-Benfica retardou ao máximo a entrada no estádio dos adeptos do Benfica. Alguns chegaram horas antes do jogo e só conseguiram entrar ao intervalo. O Porto disse que a responsabilidade era da polícia, mas o director nacional da PSP culpou o Porto por não ter disponibilizado assistentes de recintos desportivos suficientes. É óbvio que este director nacional da polícia não tem irmãos futebolistas. Eu ainda me lembro daquela escuta telefónica em que Pinto da Costa manifesta intenção de contratar o irmão de um comissário de polícia de Gaia para o colocar a rodar num clube dos escalões inferiores porque agente de autoridade daquela categoria «dá sempre jeito». Um director nacional dá mais jeito ainda, mas este, se calhar, só tem irmãs, e o Porto não deve ter futebol feminino.

Alguns benfiquistas manifestam alguma perplexidade sempre que eu me refiro ao estádio do Porto com o nome que lhe foi dado pelo clube nortenho: Estádio do Dragão. Dizem que eu não devia ceder à designação oficial, que não é merecedora da nossa aprovação. Discordo. Quanto mais gente chamar aquele recinto pelo nome, melhor. É muito apropriado ao sítio, na medida em que o dragão é como a maioria das grandes penalidades assinaladas a favor do Porto ali: na realidade, não existe. Mais: é importante não esquecer que S. Jorge matou um dragão. Trata-se de um indivíduo que era santo, notem. E, mesmo assim, o animal deu-lhe cabo da paciência a ponto de levar o homem a matá-lo. É capaz de ser exactamente por isso que o beatificaram, aliás.

Mai nada RAP, na muche!

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