quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Contra a corrente: Por não se ter atirado para o chão, Lucho é mais benfiquista do que Pedro Proença

Por Leonor Pinhão (in ABola)

Fucile foi o melhor jogador do FC Porto no clássico de domingo passado. Intensamente bravo no corredor direito e lúcido o tempo todo, mesmo quando a sua equipa mais parecia uma manta de fiapos, tantos eram os buracos por onde fluía o bonito futebol da equipa adversária, o Benfica. Tão bonito e tão fluentemente descontraído que metia em respeito os aficionados do local, mantidos em consternado silêncio durante a maior parte do jogo.

Fucile, um brioso oponente, merece o respeito dos benfiquistas. Até porque continuou a ser bravo e lúcido no dia a seguir, ou seja, na segunda-feira.

Talvez por ser uruguaio, apenas um estrangeiro de passagem pelo nosso país, despreocupado com o futuro e sem ambições de se estabelecer de pantufas terminada a carreira, Fucile disse aos jornalistas em sete corajosas palavras aquilo que toda a gente sabe mas não apetece dizer, não se vá estragar o conveniente suspense de que se alimenta, à custa dos incautos, a indústria da bola.

Pois disse Fucile:
— É muito difícil tirarem-nos do primeiro lugar!

Impecável, amigo Fucile. Não só é muito difícil como é, na verdade, impossível. Completamente impossível. Cientificamente impossível. É evidente que só um estrangeiro se pode dar ao luxo destes atrevimentos de análise e de rigor.

Um estrangeiro a qualquer momento mete-se num avião e ei-lo que vai fazer pela vida noutras paragens, longe da ameaça de, por exemplo, ter de subsistir como comentador atento, venerando e obrigado, às ocorrências do futebol português.

Em tempos recentes, um outro estrangeiro, ciente da impunidade de não viver cá, atreveu-se ao mesmo de Fucile. Disse praticamente a mesma coisa ainda que por outras palavras. Trata-se de Sir AlexFerguson — logo um Sir!

Quando lhe coube defrontar o FC Porto na Liga dos Campeões, acossado pela imprensa britânica com o número impressionante de títulos conquistados internamente pelo adversário «from Oporto», o treinador do Manchester United respondeu assim:

— Não fico muito impressionado porque o FC Porto, em Portugal, ganha títulos como quem vai às compras ao supermercado.

De Fucile a Alex Ferguson, ou vice-versa, nada muda. É gente que sabe o que é um grande supermercado e está tudo dito.

***

No domingo, Yebda foi o homem do jogo. Esteve no golo do Benfica e não-esteve no penalty oferecido por Pedro Proença ao FC Porto que permitiu a manutenção da distinta liderança dos campeões nacionais na corrente edição da prova. Nunca é demais repetir a razão de Fucile quando disse: «É muito difícil tirarem-nos do primeiro lugar.»

Pedro Proença não devia apitar jogos do Benfica. De todos os árbitros em missão pelos campos da Superliga, Pedro Proença é o único que professou em voz alta a sua fé clubista. É do Benfica desde pequenino.

Os outros árbitros não têm clube, como se sabe. Foram parar ao futebol por acaso. Há três árbitros que são adeptos de corridas de camiões, há dois que só se interessam por bridge, há quatro doidos por esqui alpino, outros três são fanáticos do florete e os demais, francamente, só vibram com o pólo aquático e na condição de a piscina estar aquecida.

Pedro Proença não é nenhum destes. É do Benfica, é do futebol. É cá dos nossos.

E sempre que aquece a discussão do titulo da bola, lá é nomeado Pedro Proença para dirigir jogos do clube do seu coração prestando-se ao papel de exemplo vivo da hombridade da classe, cujo lema é «Isenção Até Mais Não!»

Que jeito dá a esta geração de árbitros e de dirigentes da arbitragem ter um Pedro Proença à mão de semear.

Ah, mas atenção! Em termos de benfiquismo, Pedro Proença teve no domingo um grande e inesperado rival. Até excessivo, convenhamos, no seu benfiquismo, de tal modo que ia estragando tudo, o sacaninha. O próprio Pedro Proença, segundo garantem os jornais, sentiu-se ultrapassado em fervor clubista e não resistiu ao já tão publicitado desabafo:

— Sinto uma enorme frustração! — disse no final do jogo.

Vamos, então, tentar perceber o que levou o grande benfiquista Pedro Proença a sentir «uma enorme frustração». Trata-se de uma revelação brutal.

Trata-se de Lucho Gonzalez! Lucho Gonzalez, afinal, é mil vezes mais benfiquista do que Pedro Proença. Lembram-se daquele lance aos 19 minutos? Lucho protagonizou uma atitude que tem vindo a ser criticada ferozmente por comentadores, analista e todos os defensores do fair-play e da verdade desportiva.

Toda esta gente confiava plenamente no benfiquismo ajuizado de Pedro Proença. Mas ninguém contava com o benfiquismo doentio de Lucho Gonzalez. Recordando: na área do Benfica, numa discussão física com Reyes pela posse da bola, Lucho levou a pior e Reyes levou a melhor. O escândalo foi de cortar a respiração. Lucho não se atirou para o chão, não simulou ter sofrido a falta que não sofreu, de modo a que, garantidamente, Pedro Proença apitasse para a marca de grande penalidade.

Lucho não se atirou para o chão como era suposto! — foi este o momento decisivo, a chave do jogo.

Pedro Proença foi dos mais perplexos.
— Então, não cais? — perguntou o árbitro ao argentino.
— Não.
— Mas não cais, porquê? — insistiu o árbitro.
— Porque sou mais benfiquista do que tu — respondeu-lhe Lucho.
— Ai isso é que não és. Pergunta ao Vítor Pereira!
— Sou sim, senhor!

Entretanto a jogada continuou e acabou-se a conversa entre os dois. De facto, com lances destes, nunca mais há credibilidade no futebol português.

Simplesmente fabulosa a cronica!!!

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom. Costumo seguir as crónicas dela com entusiasmo e esta está no ponto. Amo-te benfica