quinta-feira, março 26, 2009

Contra a corrente: A verdadeira crónica da final da Taça da Liga.

Por Leonor Pinhão (in ABola)

Há coisas incríveis. Desde sábado, a cada dia que passa ganha maior importância a Taça da Liga, competição acabada de instaurar no calendário oficial do futebol português. Vai apenas na segunda edição e se já teve dois vencedores — Vitória de Setúbal e Benfica — tem um único derrotado, o Sporting, duas vezes batido na final e, curiosamente, duas vezes vencido no desempate através da marcação de grandes penalidades, o que é obra.
Mais ou menos por esta altura, na semana passada, a Taça da Liga não tinha a menor importância. Para os rivais de Lisboa ter de disputá-la era praticamente um castigo, uma afronta, uma humilhação. Porque importante, mesmo importante, era o campeonato e a Taça de Portugal, provas históricas com vencedor declaradamente antecipado, o que também é obra.
Não foi fácil a qualificação do Sporting para a final da Taça da Liga. Se os meios tecnológicos disponíveis no mercado fossem chamados a ajudar as equipas de arbitragem nas suas decisões — o que é urgente que aconteça! —, o Benfica teria jogado no sábado, no Algarve, com o Rio Ave, o que também não seria nada fácil.
Também é verdade que não seria necessário recorrer a um meio tecnológico ultra-sofisticado para medir os «cinco metros», unanimemente aferidos pela crítica especializada, da situação de fora-de-jogo em que o eficiente Vukcevic partiu para bater, a escassos momentos do final do jogo, o valoroso guarda-redes do Rio Ave, estabelecendo o resultado num 1-0 favorável aos visitantes. E às suas pretensões de se deslocarem, pelo segundo ano consecutivo, a Faro para tentarem conquistar a tal Taça da Liga.
Os visitados, os vilacondenses, aceitaram com fair play o erro da equipa de arbitragem. Ou se não aceitaram ninguém deu por isso…
E assim se chegou a uma final entre Benfica e Sporting, o que é sempre qualquer coisa de muito especial. Como se não bastasse tanta especialidade, foi nomeado para arbitrar o desafio um juiz de Setúbal chamado Lucílio Baptista. Por diferentes motivos, a nomeação não agradou ninguém.
Os sportinguistas não lhe perdoam os 12-1 com o Bayern Munique. É que se não fosse Lucílio Baptista nada daquilo tinha acontecido, essa é que é a verdade.
Mais do que os golos de Liedson na época de 2007/2008, o empurrão decisivo para a qualificação directa do Sporting para a Liga dos Campeões de 2008/2009 nasceu no apito de Lucílio Baptista de tal modo afinado nas derradeiras jornadas da última Liga que o Benfica, no Bessa, não conseguiu melhor do que um nulo num jogo muito intenso que valeu mil protestos dos encarnados e que valeu, sobretudo, a perda de 2 pontinhos essenciais para que o Sporting chegasse ao segundo lugar e à entrada directa na maior competição europeia de clubes.
Depois, enfim, depois foi o que se viu… Pelo que se compreende a malapata que os sportinguistas têm com o tal árbitro.
Não foi a primeira vez que, por linhas tortas, Lucílio Baptista humilhou o Sporting. Apitou, uma vez, um derby, em Alvalade no tempo em que André Cruz pontificava entre os leões como o melhor marcador de livres directos do mundo. Pois Lucílio apitou 47 faltas à entrada da área do Benfica e André Cruz nunca acertou. Nos minutos de descontos, para equilibrar as estatísticas do jogo, o árbitro Baptista apitou uma falta a favor do Benfica, perto do grande círculo do meio campo, e o egípcio Sabry fez um golão faraónico.
As queixas do Benfica contra Lucílio Baptista são mais comezinhas. É muito simplesmente o árbitro que em toda a história do futebol português mais jogadores do Benfica expulsou, mais penalties contra o Benfica marcou. Em 2003, nas Antas, conseguiu expulsar Ricardo Rocha num lance de tal forma limpo disputado com Deco que o próprio José Mourinho veio, no final da partida, dizer que Rocha não tinha tocado no brasileiro, melhor, no ex-brasileiro.
Ricardo Rocha ficou tão aborrecido que despiu a camisola e, em pleno relvado, a atirou para Lucílio Baptista em sinal de protesto.
Estando a par deste acontecimento, os serviços de inteligência do Sporting levaram para o Algarve, no sábado, a lição bem estudada. Era preciso equilibrar as coisas. Chama-se a isto política de comunicação. E, assim, foram dadas ordens aos jogadores do Sporting para que, à primeira decisão desfavorável de Lucílio Baptista, o jogador do Sporting mais próximo tirasse a camisola e a atirasse na direcção do árbitro.
Mas não foi fácil cumprir com a instrução. Derlei e Polga esmeravam-se na sarrafada e Lucílio a ver, tranquilo. Depois, chegou o golo do Sporting, precedido de uma falta de Vukcevic sobre Maxi Pereira e Lucílio a mandar seguir. Quando o Benfica empatou, de grande penalidade de sabor raro, os serviços de inteligência do Sporting gritaram para dentro do campo para Pedro Silva:
— Atira-lhe com a camisola! Atira-lhe com a camisola!
Mas Pedro Silva não ouviu. Quem ouviu foi Liedson que, imediatamente, atirou com a camisola. Mas atirou-a mal. Atirou-a a Paulo Bento.
— Se isto for para penalties, não conte comigo, mister!
Ora isto desmoraliza uma equipa. E foi o que se viu no desempate por grandes penalidades. Depois, na entrega das medalhas, o atrevido Liedson foi ter com Pedro Silva e perguntou-lhe:
— Ouve lá, porque é que não atiraste com a camisola ao árbitro?
— E tu porque é que não atiraste o penalty? — respondeu-lhe Pedro Silva de mau humor.
— Porque já perdi quatro vezes nos penalties desde que aqui cheguei! — retorquiu-lhe o levezinho.
E foi nesse preciso momento que Pedro Silva, de raiva, atirou ao chão com a medalha que acabara de receber das mãos do presidente da Liga.
Éevidente que os jogos desta importância não se decidem só dentro das quatro linhas. O presidente do Sporting bem se tem esforçado para o explicar ainda que por portas travessas e por frases misteriosas. Como esta:
— Nunca mais na minha vida vou falar com Lucílio Baptista! — disse no final da partida.
O que levanta algumas questões. Como estas:
1) Mas falava antes?
2) E porquê?
3) E a que propósito?
Também se mostrou indignado o presidente do Sporting pelo facto de o Benfica ter pedido aos serviços competentes controlo anti-doping para a final da Taça da Liga. E afirmou, erroneamente, que nunca no Sporting houve um caso positivo de dopagem, ao contrário do que já aconteceu no Benfica.
Está certamente esquecido o presidente do Sporting daquelas Voltas a Portugal em bicicleta em que ao vencedor, um atleta do seu clube, foi-lhe retirado o ceptro depois do resultado das análises. O que, aliás, motivou uma das frases mais inesquecíveis do reportório cómico do desporto de alta competição em Portugal.
Só se foi do Sumol
Lembram-se?

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