domingo, maio 17, 2009

A chama imensa: Jesus, o Papa e os anjinhos

Por Ricardo Araújo Pereira (in ABola)

«
O que há num nome?», perguntou Shakespeare, que não sabia nada de futebol. Ou talvez soubesse: na quarta cena do primeiro acto do Rei Lear, Kent pretende desmerecer Oswald, e resolve insultá-lo chamando-lhe «jogador de futebol». No tempo de Shakespeare, o futebol era um jogo violento, quase animalesco, bem diferente do que conhecemos hoje, com a excepção do que é praticado por Bruno Alves. Mas quando Julieta argumenta contra a importância dos nomes, dizendo que aquilo a que chamamos rosa exalaria um perfume igualmente doce se tivesse outra designação qualquer, faz-nos pensar. E se o próximo treinador do Benfica se chamasse Jesus? Seria isso suficiente para que o Glorioso fizesse frente ao Papa? Será redundante apontar um Jesus para dirigir uma equipa que, tantas vezes, perece composta por anjinhos? O Jesus original conseguiu multiplicar os pães, mas o Papa opera um milagre mais eficaz, que é o da multiplicação da fruta. Jesus tinha uma equipa de 12 discípulos, mas a equipa do Papa costuma jogar com 14. Poderá este novo Jesus fazer algum milagre? Confesso que não sei. Haja fé.

Quando, há umas semanas, falei aqui do, digamos, jornalista António Tavares-Teles, alguns leitores manifestaram surpresa: não sabiam, ou já não se lembravam, da célebre escuta em que o, digamos, jornalista Tavares-Teles foi apanhado a combinar a publicação de um texto falso com Pinto da Costa, e menos ainda se recordavam da deliberação do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, segundo o qual o, digamos, jornalista Tavares-Teles havia infringido objectivamente o artigo n.º 1 do Código Deontológico dos Jornalistas, logo aquele que obriga a «relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade». São esquecimentos naturais: em Portugal, a tarefa de recordar todos os que mandam a honestidade às malvas requer um esforço de memória hercúleo, e os pequeninos são os primeiros a serem esquecidos. Recuperar este tipo de episódio constitui, por isso, serviço público. Assim sendo, prossigamos.

Desta vez, gostaria de recordar um texto memorável que o, digamos, jornalista Tavares-Teles escreveu (ou alguém por ele, nunca se sabe) no jornal O Jogo, em Julho de 2007. Começava com uma consideração interessante: «Ana Salgado pôs em causa — sem na SIC o nomear, é verdade, mas isso porque a pessoa que a entrevistou não lhe pôs algumas perguntas que devia ter-lhe posto — um membro da equipa de Maria José Morgado, no que diz respeito à actuação de Carolina na tentativa de acusação a Pinto da Costa. «O leitor vê o mesmo que eu? Por um lado, a fé nas declarações de Ana Salgado, que os portistas só renegaram desde que a senhora, antes pura e agora pérfida, veio acusar Pinto da Costa de lhe ter oferecido envelopes mensais com 5.000 euros para mentir a seu favor em tribunal. Por outro, a censura ao profissional que não lhe pôs algumas perguntas que devia ter-lhe posto". O, digamos, jornalista Tavares-Teles esquece-se de que nem todos os jornalistas são assessorados por gente esclarecida que lhes diz o que devem escrever e perguntar. Não é elegante exigir aos colegas que tenham a mesma sorte que ele.

A seguir, o, digamos, jornalista Tavares-Teles (ou alguém por ele) deixa uma interrogação: «em que é que o depoimento de Carolina Salgado vale mais (ou menos) do que o de Ana Salgado?» Hoje sabemos que, de facto, o depoimento de Ana Salgado valia mais. Há quem diga, aliás, que valia 5.000 euros por mês.

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