Por Leonor Pinhão (in "Abola")
Bruno Alves, há que reconhecer, é mesmo especial. Para o pessoal do Benfica, pessoal onde me incluo, ao longo das últimas épocas, Bruno Alves foi simplesmente um jogador importante do clube rival. Aquele tipo de jogador a que chamamos de intratável, se bem me faço compreender. Mas vai uma grande distância daí até entender como admissível, melhor, verosímil, o interesse anunciado por grandes clubes da Europa, os maiores de todos, na sua contratação.
Tal como Cristiano Ronaldo — que sempre me parecia ter marketing a mais e association a menos — só me convenceu, em definitivo, com aquele golão marcado ao FC Porto nos quartos-de-final da última Liga dos Campeões, também Bruno Alves me fez esperar pela cabeçada atómica que deu no esférico nos segundos finais do jogo de hoje da Selecção Nacional na Albânia.
É preciso ser craque a sério para fazer aquilo que Bruno Alves fez em Tirana. Não é que o adversário fosse intratável — é uma das piores selecções europeias —, nem que a marcha do relógio tornasse impossível o milagre porque enquanto há jogo… há bola e tudo pode acontecer... mas é preciso conhecer os portugueses em geral e o futebol português em particular, para entender a dimensão do feito que nos permite continuar a sonhar com o Mundial de 2010.
Bruno Alves é um excelente defesa-central, como muitos outros, mas tem uma característica que evidenciou hoje e que o torna raro: é um anti-acomodado. E isto no futebol ao mais alto nível tem muito valor.
Estávamos já todos, para aí uns 9 milhões, acomodados à ideia de que o empate com a Albânia era certo, e que o adeus à África do Sul estava lavrado, e que o seleccionador era uma besta e que os jogadores eram uns mandriões, e, como portugueses que somos, estávamos adoravelmente acomodados a estas ideias tão tristes e tão fadistas, quando Bruno Alves, o anti-acomodado, foi à área contrária, esperou por uma bola centrada, trepou por um escadote imaginário, subiu mais alto que todos os adversários e companheiros, e ferrou com a tola um disparo feroz que deu em golo e deu em vitória e adiou a depressão nacional que já se antecipava em gozo sofredor.
Depois o árbitro apitou para o final do jogo e os jogadores portugueses terminaram a sua actuação em abraços e choros de felicidade como se tivessem ganho a final do Campeonato do Mundo ao Brasil perante uma audiência global de biliões de telespectadores. Esta é que foi mesmo a parte deprimente.
Domingo, 7 de Junho
Ah, um domingo sem futebol…
Segunda-feira, 8 de Junho
Os órgãos sociais do Benfica demitiram-se em bloco como era previsível a partir do momento em que Luís Filipe Vieira não escondeu que pretendia antecipar o acto eleitoral marcado, estatutariamente, para Outubro. Tivesse Vieira para as coisas do futebol, a intuição animal e o saber prático, intratável, que tem para estas coisas da política interna, e o Benfica já somaria um ror de títulos nacionais e internacionais.
Ou seja… se o presidente do Benfica fizesse gato-sapato dos adversários externos como faz dos adversários internos… imaginem, caros benfiquistas, como ia bordejado a ouro, a diamantes e a tacinhas de todos os tamanhos e feitios, o nosso palmarés desportivo dos últimos anos.
Se do Benfica para fora, Luís Filipe Vieira não tem sido um presidente auspicioso, já do Benfica para dentro Vieira é o mais feliz dos homens. E até a sorte que lhe tem faltado nas disputas nos campos desportivos, tem-lhe sobrado nos despiques internos.
Pode, por exemplo, ter tido azar a contratar treinadores e jogadores para a equipa de futebol, mas tem tido uma sorte dos diabos com o presidente da Assembleia Geral, Manuel Vilarinho que, no seu estilo muito pessoal, o tem poupado a inúmeros disparates e azedumes.
São um mimo as declarações de Manuel Vilarinho à imprensa depois de consumada a marcação do acto eleitoral para 3 de Julho. «Quem é o senhor Bruno não sei quantos?»… «Benfiquista sou eu e mais dez ou vinte. Mais ninguém…»… «Vieira dá 9-1 ao Veiga»… e por aí fora, neste estilo desabrido, semi-enlouquecido, que faz dele o actor/autor do enredo e que poupa Luís Filipe Vieira aos incómodos de ter de responder aos ofendidos.
Terça-feira, 9 de Junho
A notícia é, de facto, sensacional mas, curiosamente, não lhe foi dado grande destaque. Não passou da coluna das breves. E, no entanto, pela primeira vez desde que abandonou a presidência do Benfica, João Vale e Azevedo foi ilibado pelo Justiça da suspeita de um crime.
De acordo com a Lusa, «o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decidiu não levar Vale e Azevedo e o empresário Paulo Barbosa a julgamento» por não existir «fundamento para a acusação» sustentada pelo Benfica contra ambos «de desvio de um milhão de euros» referentes «à apropriação de verbas na compra de 17 jogadores».
Mas o que é que se terá passado para uma anormalidade destas acontecer?
Confiando na Justiça, como é direito e dever de qualquer cidadão de um Estado civilizado, teremos de concluir que João Vale e Azevedo não se abotoou com o maçaroca de terceiros e será, precisamente esse, o tal facto sensacional à luz do registo histórico que é do conhecimento de todos.
Ao contrário do futebol, a Justiça não é um jogo. Mas se fosse um jogo, com as componentes da sorte e do azar, quase seria caso para concluirmos que o azar de Vale e Azevedo foi ter sido acusado sozinho em todos os processos visto que, assim em que foi acusado com companhia, logo foi ilibado. Ou seja, no caso em discussão, a sorte de Vale e Azevedo foi ter a companhia de Paulo Barbosa. Isto, evidentemente, se a Justiça fosse um jogo de sorte e de azar.
Longe vão os tempos em que o ditame antes só que mal acompanhado fazia sentido. O decisivo, agora, quando se trata das justiças da bola, é a companhia: antes bem ou mal acompanhado, do que só, faz a lei. Temos, também de hoje, o exemplo magnânime da sanha punitiva da Comissão de Disciplina da Liga de Clubes: na sequência do processo Apito Dourado, lá foram relegados para as divisões abaixo, os poderosos Vizela e Gondomar. Acompanham-se um ao outro nesta baixeza e, por ironia do destino — que é o mestre da sorte e do azar —, talvez se possa ainda salvar, na secretaria, o Boavista da descida de divisão a que foi sujeito, no campo.
É verdade que estamos no defeso. Mas a bola não pára.
Quarta-feira, 10 de Junho
Na Estónia, muitas caras novas na Selecção. E ainda podiam ter sido mais (as caras novas) se Beto, guarda-redes do Leixões, não tivesse brilhado a tão grande altura contra os avançados da casa. Sobretudo na segunda parte, Beto fez tantas e tão boas defesas que impediu a estreia de Moreira na selecção principal. O que se compreende e aceita. Carlos Queiroz não quis ser acusado de fazer uma má substituição e bastava Moreira ter sofrido um golo para que isso voltasse a acontecer.
1 comentário:
A Gloriosasfera tem agora um endereço próprio: www.gloriosasfera.com
Obrigado por divulgar.
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