Por Ricardo Araújo Pereira (in Jornal Abola, 26 de Junho)
Há quem seja fanático quanto à política, quanto à religião, quanto à nacionalidade. Pessoal mente, prefiro guardar o facciosismo para aquilo que verdadeiramente interessa: o Benfica. Os temas menores despertam em mim emoções apropriadas à sua dimensão. Talvez por isso tenha, sobre a Selecção Nacional, um olhar mais distanciado e neutro do que aqueles hooligans aos quais alguns chamam jornalistas.
Durante o Campeonato do Mundo, deixo o fanatismo suspenso. Os jornalistas desportivos fazem o contrário. Passam quatro anos a praticar aquilo que eles tomam por isenção. Em foras-de-jogo escandalosos, talvez o árbitro mereça o benefício da dúvida. Perante o maior penalty do mundo, ficam com algumas dúvidas mas respeitam a decisão. Assim que começa o Mundial, entregam a carteira de jornalista e mandam a imparcialidade às malvas. O código deontológico deixa de valer quando a Selecção joga. Por exemplo, quando Tiago caiu na área do Brasil, percebi logo que não tinha havido falta. Os jornalistas que faziam o relato na televisão começaram a gritar penalty ainda a bola não tinha passado do meio campo. Foram necessárias duas repetições para reconhecerem, muito relutantemente, que ninguém tinha tocado no jogador português. Quando Juan jogou a bola com a mão, os comentadores do jogo começaram a preencher um requerimento à FIFA com vista à irradiação do defesa brasileiro, e depois lamentaram que o árbitro tivesse aplicado as regras, mostrando apenas um amarelo. O único brasileiro a quem os nossos jornalistas não arreganharam o dente foi mesmo o Pepe. Curiosamente, também foi o único brasileiro que merecia, de facto, ter sido expulso. Nas entrevistas rápidas e conferências de imprensa, o modelo das perguntas é sempre o mesmo: trata-se de elogios com um ponto de interrogação no fim. Fulano de Tal, não é um enorme orgulho acabar a fase de grupos sem qualquer golo sofrido? Ninguém se lembra de perguntar, ainda que de passagem: Fulano de Tal, não é um bocadinho preocupante acabar a fase de grupos tendo conseguido marcar golos apenas à Coreia do Norte?
Entretanto, os meus compatriotas continuam divididos: scolaristas de um lado e queirozistas do outro. Pela minha parte, nunca achei que Scolari e Queiroz fossem treinadores que merecessem clube de fãs. É verdade que Scolari é o treinador mais bem sucedido de sempre da Selecção Nacional, mas talvez isso diga mais dos seleccionadores que temos tido do que dele. Quanto a Queiroz, parece assombrado pelo fantasma de Scolari. E, por isso, aparentemente resolveu emular o treinador que mais retumbantemente venceu Scolari: Otto Rehhagel. O ex-seleccionador da Grécia teria apreciado a equipa portuguesa que ontem empatou com o Brasil. Estavam em campo dois laterais esquerdos, quatro centrais, dois médios, um extremo e um Danny - cuja posição confesso que ainda não percebi exactamente qual é. A selecção portuguesa está, por tanto, assombrada por dois fantasmas: o de Scolari e o de Rehhagel. Se algum médium conseguir convocar o fantasma de Mourinho, talvez Portugal seja campeão.
Há um limite para além do qual a rivalidade clubística deixa de fazer sentido. Uma coisa são saudáveis picardias, outra são altercações azedas. A BOLA tem colunistas do Benfica, do Sporting e do Porto, e tanto benfiquistas como sportinguistas devem reconhecer, sem sectarismo, que se encontram em desvantagem. O Porto é o único que tem, entre os seus representantes neste jornal, um homem que além de colunista, é um escritor e dos bons. Um abraço para o Francisco José Viegas.
Muito bem o RAP .
Há quem seja fanático quanto à política, quanto à religião, quanto à nacionalidade. Pessoal mente, prefiro guardar o facciosismo para aquilo que verdadeiramente interessa: o Benfica. Os temas menores despertam em mim emoções apropriadas à sua dimensão. Talvez por isso tenha, sobre a Selecção Nacional, um olhar mais distanciado e neutro do que aqueles hooligans aos quais alguns chamam jornalistas.
Durante o Campeonato do Mundo, deixo o fanatismo suspenso. Os jornalistas desportivos fazem o contrário. Passam quatro anos a praticar aquilo que eles tomam por isenção. Em foras-de-jogo escandalosos, talvez o árbitro mereça o benefício da dúvida. Perante o maior penalty do mundo, ficam com algumas dúvidas mas respeitam a decisão. Assim que começa o Mundial, entregam a carteira de jornalista e mandam a imparcialidade às malvas. O código deontológico deixa de valer quando a Selecção joga. Por exemplo, quando Tiago caiu na área do Brasil, percebi logo que não tinha havido falta. Os jornalistas que faziam o relato na televisão começaram a gritar penalty ainda a bola não tinha passado do meio campo. Foram necessárias duas repetições para reconhecerem, muito relutantemente, que ninguém tinha tocado no jogador português. Quando Juan jogou a bola com a mão, os comentadores do jogo começaram a preencher um requerimento à FIFA com vista à irradiação do defesa brasileiro, e depois lamentaram que o árbitro tivesse aplicado as regras, mostrando apenas um amarelo. O único brasileiro a quem os nossos jornalistas não arreganharam o dente foi mesmo o Pepe. Curiosamente, também foi o único brasileiro que merecia, de facto, ter sido expulso. Nas entrevistas rápidas e conferências de imprensa, o modelo das perguntas é sempre o mesmo: trata-se de elogios com um ponto de interrogação no fim. Fulano de Tal, não é um enorme orgulho acabar a fase de grupos sem qualquer golo sofrido? Ninguém se lembra de perguntar, ainda que de passagem: Fulano de Tal, não é um bocadinho preocupante acabar a fase de grupos tendo conseguido marcar golos apenas à Coreia do Norte?
Entretanto, os meus compatriotas continuam divididos: scolaristas de um lado e queirozistas do outro. Pela minha parte, nunca achei que Scolari e Queiroz fossem treinadores que merecessem clube de fãs. É verdade que Scolari é o treinador mais bem sucedido de sempre da Selecção Nacional, mas talvez isso diga mais dos seleccionadores que temos tido do que dele. Quanto a Queiroz, parece assombrado pelo fantasma de Scolari. E, por isso, aparentemente resolveu emular o treinador que mais retumbantemente venceu Scolari: Otto Rehhagel. O ex-seleccionador da Grécia teria apreciado a equipa portuguesa que ontem empatou com o Brasil. Estavam em campo dois laterais esquerdos, quatro centrais, dois médios, um extremo e um Danny - cuja posição confesso que ainda não percebi exactamente qual é. A selecção portuguesa está, por tanto, assombrada por dois fantasmas: o de Scolari e o de Rehhagel. Se algum médium conseguir convocar o fantasma de Mourinho, talvez Portugal seja campeão.
Há um limite para além do qual a rivalidade clubística deixa de fazer sentido. Uma coisa são saudáveis picardias, outra são altercações azedas. A BOLA tem colunistas do Benfica, do Sporting e do Porto, e tanto benfiquistas como sportinguistas devem reconhecer, sem sectarismo, que se encontram em desvantagem. O Porto é o único que tem, entre os seus representantes neste jornal, um homem que além de colunista, é um escritor e dos bons. Um abraço para o Francisco José Viegas.
Muito bem o RAP .
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