domingo, junho 28, 2009

A chama imensa: Em quem eu voto

Por Ricardo Araújo Pereira (in ABola)

NA próxima sexta-feira realizam-se as eleições para a presidência do Sport Lisboa e Benfica e, pelo menos até ao momento em que escrevo, nenhum candidato ou candidato a candidato foi atirado por umas escadas abaixo. Já não é mau, e acaba por ser motivo de orgulho: no Benfica há candidatos (e há também escadas) e eles podem concorrer com a certeza de que não serão incentivados a fracturar o crânio contra um degrau.

Quanto aos candidatos, calculo que Bruno Carvalho não tenha convencido muita gente — até porque, aparentemente, não conseguiu convencer o próprio Bruno Carvalho. Eu confesso que concordo com muitas das ideias de Bruno Carvalho. O problema é que Bruno Carvalho não concorda. Tenho, por exemplo, simpatia pela ideia segundo a qual a identidade do clube sai reforçada se forem benfiquistas a representar e a trabalhar no Benfica. Foi o que disse Bruno Carvalho. E depois convidou Petit, um boavisteiro confesso, para mandatário de campanha. Também acredito que o Benfica precisa de uma liderança forte, determinada e coerente, que não diga hoje uma coisa e amanhã outra. Foi o que defendeu Bruno Carvalho. Depois disse que Jorge Jesus seria despedido por si no dia seguinte às eleições, e uma semana depois disse que Jorge Jesus não seria despedido por si no dia seguinte às eleições. Penso que o papel de Rui Costa no futebol do Benfica é inestimável. Bruno Carvalho também. Mas quer despromovê-lo de director desportivo para conselheiro do presidente para a área do futebol. Quer isto dizer que os conhecimentos de Rui Costa sobre futebol não o qualificam para dirigir, mas apenas para aconselhar. Bruno Carvalho deixa que Rui Costa colabore, mas o que o maestro sabe sobre futebol deve ser depurado pelo superior julgamento de Bruno Carvalho.

Como é evidente, também tenho divergências (é certo que pequenas) com Bruno Carvalho. Por exemplo, não concordo com o conceito de geração de Bruno Carvalho. O candidato afirmou que Carlos Azenha (técnico que propõe para o Benfica) era o melhor treinador português da sua geração. Sucede que Carlos Azenha é três ou quatro anos mais novo que José Mourinho. Não tenho dúvidas de que Carlos Azenha seja competente (por alguma razão Jorge Jesus o convidou para adjunto quando treinou o Vitória de Setúbal), mas enquanto for da mesma idade de José Mourinho (e julgo que terá dificuldade em deixar de o ser) não será o melhor da sua geração. Discordo, igualmente, do conceito de competência de Bruno Carvalho, que afirma que a actual direcção é totalmente incompetente. Bruno Carvalho é sócio efectivo do Benfica desde o ano passado, e é possível que tenha começado a acompanhar a vida do clube apenas nessa altura, mas quem se lembra da situação em que o clube estava quando Vale e Azevedo saiu terá mais cuidado a avaliar as capacidades dos actuais dirigentes. Além disso, não concordo com o conceito de justiça de um candidato que propõe tratar de igual modo todos os dirigentes adversários: desde os que estão a cumprir pena de suspensão de dois anos por tentativa de corrupção aos que não recebem árbitros em casa para tomar café.

Havia também o Movimento Benfica, Vencer, Vencer — que, para movimento, há que reconhecer que está um bocado parado. Era um movimento que tinha projecto, ideólogos e lista — só não tinha presidente. Tentou arranjar um, mas não conseguiu. E torna-se difícil mobilizar milhares de sócios quando não se tem capacidade para mobilizar só um.

Ponderadas todas estas questões, concluí que concordo com quase tudo o que diz Bruno Carvalho e que, tal como o movimento de notáveis, desejo que o Benfica vença (e até, se puder, que vença vença). Mas é mais ou menos por isso que vou votar em Luís Filipe Vieira.

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